terça-feira, 29 de abril de 2008

GazetaInveste - O comportamento das bolsas

Amigos, selecionei esse texto muito interessante, publicado na Gazeta em 7 de Março de 2007. Vale muito a sua leitura.

7 de Março de 2007 - Ao longo dos meus (quase) 30 anos de experiência profissional, pude verificar a grande dificuldade de se prever, com razoável precisão, as diversas variáveis econômicas, como taxa de juros, câmbio, inflação, crescimento do PIB e bolsa de valores, entre tantas outras. Notei que, ao checar as previsões efetuadas, ano após ano, a margem de acerto é bem baixa.

Quando nos focamos na previsão do comportamento das bolsas de valores, sem dúvida é a que gera mais polêmica, devido à sua alta volatilidade (grau de oscilação), principal variável a dificultar essas projeções. Não é por acaso que o investimento no mercado acionário é considerado renda variável e não renda fixa, ou seja, o grau antecipado de acuidade sobre o valor a ser auferido pelo investidor é muito baixo.

Não estou afirmando que essas projeções devam ser, simplesmente, ignoradas. Recomendo apenas que a leitura dessas análises seja feita com cautela.

Há outros fatores, de natureza psicológica, que dificultam ainda mais a possibilidade de acerto nas projeções. São basicamente duas emoções - neste caso antagônicas - que impedem o investidor de agir com a frieza e racionalidade que as bolsas de valores requerem: a ganância e o medo. A ganância aparece quando os mercados estão em alta forte e o sentimento de que a alta irá persistir indefinidamente se instala, impedindo que o investidor venda realizando lucros e, pior ainda, fazendo-o comprar nesses períodos. Situação inversa, o medo surge nos momentos de baixa, quando o investidor acredita que o mercado continuará a cair indefinidamente e que será possível sempre comprar em condições melhores do que as atuais ou, mais grave, forçando-o a vender nessas ocasiões com receio de que as perdas aumentem.

No caso do mercado de ações, ao contrário de outros ativos, quanto menor o horizonte de análise, maior a dificuldade de previsão. Em suma, no longo prazo o retorno das ações cotadas em bolsa se aproxima do real desempenho das empresas em seus balanços financeiros; isto é, os exageros dos períodos de otimismo e pessimismo que ocorrem, rotineiramente, nas bolsas, têm seus efeitos bem atenuados na performance das ações no longo prazo, diferentemente do impacto no curto prazo.

Ao analisarmos o Índice Bovespa desde a sua criação, no início de 1968, até o final de 2006, constatamos que o rendimento médio real nesse período foi de 9,6% ao ano (acima do IGP-DI). Ao longo desses 39 anos, 16 anos apresentaram alta real superior a 15% ao ano e 11 anos, queda real superior a 15% ao ano.

Esses dados nos indicam, claramente, que o mercado acionário tem períodos cíclicos de otimismo e pessimismo que se compensam ao longo do tempo, sempre trazendo o rendimento médio real para próximo do seu padrão histórico.

Ao trazermos a discussão para os dias atuais, podemos fazer uma simulação estatística da faixa de oscilação do índice para o final de 2007, com 95% de confiança, partindo do Ibovespa, ao final de 2006, de 44.473 pontos. Desse modo, chegaremos a um mínimo de 30.800 pontos e um máximo de 59.600, com ponto médio da curva histórica de 42.800. Nota-se que o Ibovespa já estava acima da sua curva histórica de valorização, em dezembro do ano passado, e pode sofrer uma correção mais à frente.

Mais uma vez, o investidor achará que essa faixa é muito ampla, mas a resposta que cabe é que ela demonstra a realidade dos fatos, em acordo com a volatilidade atual; qualquer outro tipo de projeção, aparentemente mais preciso, carece de rigor técnico e não se sustenta em sucessivas projeções.

Muitos profissionais aleguem, em defesa do processo de alta, que estamos em um novo paradigma, devido ao crescimento acentuado da China nos últimos anos. Mas o que se pode afirmar, é que após quatro anos consecutivos de altas expressivas, fato pouco comum na história do Ibovespa, acumulando ganho real de cerca de 211% no período (2003 a 2006), é muito importante ter cautela ao investir, hoje, no mercado acionário, para não ser surpreendido no futuro.

kicker: O mercado acionário tem períodos cíclicos de otimismo e pessimismo que se compensam ao longo do tempo

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Fabio Colombo - Graduado em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica-USP e Administrador de Investimentos)

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